Boa noite à todos.
Meu nome é Maria Edilene dos Santos, sou natural de uma cidade distante de Sergipe duas horas, mais um estado do Brasil. Aliás, acredito que seja o menor (só ganhamos do DF) mas se eu estiver errada, por favor me corrijam. Enfim, sai de casa aos 11 anos de idade e fui de carona para a Aracaju e lá trabalhei como doméstica, desde essa idade sem salário, só pra ter uma cama para dormir e um prato de comida. Aos 16 anos, apareceu um 'anjo', uma senhora com uns 60 anos que quis me adotar. Aceitei e fui morar no Rio de Janeiro, uma cidade linda, que não tive a oportunidade de conhecer. Lá, entendi que ela só me queria para ser sua empregada em tempo integral, pois trabalhava desde antes do sol nascer até depois da novela das 9 horas. Cansei e, depois de 6 meses, no mesmo dia que ela me pagou, fugi e decidi tentar a sorte em São Paulo. Chegando em São Paulo, mesmo com dinheiro que havia recebido mas, por ser menor de idade, tive que dormir na rua por cinco dias.
Naquele ponto, já duvidando que Deus existia, já que Ele não ouvia minhas súplicas, me apareceu um senhor, de pouco idade e, de dentro do seu carro, ele me perguntou o que eu estava a fazer ali, na Praça da Sé, olhando para o 'nada'. Antes de responder, pensei. Ou Deus mandou essa pessoa pra me ajudar ou para acabar com o meu sofrimento. Após alguns minutos de conversa, ele me convida para entrar no seu carro, pois me prometeu dar abrigo e um prato de comida, por aquele dia. Seria um alento, depois de tanto sofrimento. Ele havia me dito que eu era atraente e isso me deixou com medo, porém, ele disse que eu não poderia pernoitar mais do que um dia, pois ele tinha namorada e que tinha medo da reação dela, se me visse na casa dele.
Após uma boa noite de sono que eu já não lembrava com era (acreditem, 05 dias dormindo na rua se parecem mais do que um ano). Acordei às 13 horas e não aceitei tomar o 'café da manhã'. Ainda estava muito apavorada com a 'bondade' dele para ter fome. Ele me disse que me levaria em alguns restaurantes da Moóca para eu tentar uma vaga e, se não conseguisse, poderia voltar pra dormir. Porém, fiquei com medo de voltar, mesmo que não tivesse tido nenhum motivo pra desconfiar do meu bem feitor, eu achei por bem não arriscar novamente.
Após entrar no primeiro restaurante com ele, antes de conversar com qualquer pessoa, sai e entrei em uma rua calma, até demais, pois tinha alguns homens mal encarados. Me assustei, voltei correndo e entrei em outra rua. Sentei em um muro e comecei a chorar, pensando se havia feito a melhor escolha ao sair do Rio de Janeiro.
Nessa hora, uma senhora, tipo italiana, típica da região, uma Nona maravilhosa, com uma aura angelical, se aproximou de mim e me perguntou o que estava se passando comigo. Contei minha história e ela me disse que havia uma outra senhora, amiga dela, que precisava de ajudante na vidraçaria da famiglia. Eu me interessei, mas duvidei de que alguém fosse me pegar, 'da rua', e me colocar pra trabalhar e morar dentro da própria. Não sei se foi meu choro ou o quê, mas nessa mesmo momento, a dita senhora, dona da vidraçaria veio em nossa direção. A primeira senhorinha perguntou para a amiga dela que se aproximava:
- Marta, você não quer levar essa moça para te ajudar na sua casa e na vidraçaria? Ela não tem ninguém aqui em São Paulo e não tem onde morar.
A dona Marta disse direto:
- Se ela quiser, eu levo.
Eu pensei comigo, 'Essa senhora é louca. Como pode pegar alguém da rua e colocar dentro de casa'.
Ali, duas coisas aconteceram. Uma, que eu aceitei. E duas, que eu voltei a acreditar em Deus e que ele estava trabalhando para me amparar. Por isso, essas duas senhoras, foram anjos na minha vida. Se houvessem mais anjos como elas nos dias de hoje, teríamos menos problemas na nossa cidade e no nosso Brasil.
Chegando à casa da Dona Marta, desacreditei de Deus novamente. A casa estava muito suja e, como ela tinha que sair com sua amiga e não me conhecia, ela decidiu me trancar na casa dela e levou a chave. O quintal era muito sujo. Muitas roupas da enteada dela espalhadas pelo chão e resquícios da presença de um cachorro, que havia cinco dias, não estava mais ali, pois alguém o havia levado embora, mas deixado sua marcante presença. No regresso da Nona, eu já estava pronta para me despedir, porém, ela foi mais rápida que eu e me disse as regras da casa: "cada um seria responsável apenas pelas próprias rotinas na casa, que eu precisaria apenas precisaria trabalhar, de fato, na vidraçaria e que eu poderia acordar às 9 horas da manhã". Depois disso desisti de sair de lá. Seria perfeito pra mim. Ainda bem que minha ansiedade foi mais lenta.
Hoje, com 40 anos, sou mãe solteira de um filho maravilhoso de 17 anos, criado por mim, como mãe e pai, sem a ajuda de ninguém (Deus me ajudou, é óbvio) e aqui estou neste sábado, que foi muito interessante e produtivo, colocando o meu primeiro post do meu blog no ar. Um projeto de dois anos que se materializa hoje, com a ajuda de Deus, que me colocou em um curso do Sebrae, onde conheci um colega que disse que teria um amigo que talvez pudesse me ajudar. Assim, estou acabando de criá-lo, a quatro mãos, com o auxílio do Edson, da EFERA (www.efera.com.br), que está, muito gentilmente, me ajudando na criação desse espaço e me ajudando na digitação desse texto, onde desenterrei uma parte do meu passado e onde pretendo falar sobre a minha vida até aqui, uma trajetória cheia de percalços e tropeços mas, sobretudo, para falar das minhas impressões do dia a dia e de como vejo o futuro.
Como diria um poeta da periferia, continuarei "contrariando as estatísticas" e "da ponte pra cá", "sobrevivendo no inferno". Mas, vamos que vamos, porque o que nos resta é ir, seguir em frente e "tentar a sorte" todos os dias, com fé em Deus, muita coragem e muita responsabilidade.
O objetivo desse blog é dar continuidade às duas publicações que, há pouco tempo atrás, citaram meu nome e um pouco da minha história e das minhas opiniões. Em ambas eu digo que devemos, todos nós, seres humanos, e não só nós brasileiros, ter menos filhos, para podermos, de uma forma fora de políticas de governo, ter menos violência. Claro que é um processo lento, contudo, é um processo que precisa ser iniciado o quanto antes (se já não foi) para minimizarmos os problemas do nosso cotidiano. A 'política' de não intervenção nas vidas das pessoas, seja por parte do governo, da igreja, da sociedade, induz as pessoas a acreditarem que suas atitudes de livre arbítrio são as mais corretas para a sociedade.
Contudo, nem a sociedade sabe o que é melhor pra ela e, dessa forma, o circulo vicioso se perpetua, onde membros dessa mesma sociedade se matam ao invés de seu unirem para atacarem, de fato e com toda a união possível, os reais mal feitores do sistema, que neste caso seriam o sistema político, o sistema prisional, o sistema educacional, o sistema previdenciário, o sistema de saúde pública e TODOS os outros sistemas que influem na vida cotidiana de todos nós, cidadãos e não cidadãos brasileiros, justamente por vivermos numa sociedade OPORTUNISTA, EGOÍSTA e CONSUMISTA.
Enfim, por hoje é só. Pra um primeiro post está bom, não?
Gostaria de saber de cada leitor a opinião sobre o que leu acima.
Esse post, no futuro, visará levantar, de fato, a bandeira "MENOS FILHOS, MENOS VIOLÊNCIA". Aqui e no mundo inteiro.
Uma boa semana e que Deus, que eu acredito e confio muito, abençoe à todos nós.
Edilene dos Santos
Edilene, fico muito feliz em saber que ainda existe pessoas assim, que lutam para conseguir um futuro digno, mas pensando nas pessoas em sua volta; e mesmo com tudo isso que aconteceu, você não desistiu e conseguiu cuidar do seu filho sozinha. Espero que esse seu blog, o livro ajudem várias pessoas que tiveram ou está tendo uma vida assim como a sua, parabéns por esse seu trabalho e sucesso nessa sua jornada!!
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